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segunda-feira, dezembro 08, 2014

Livros que Enchem uma Estante Vazia


     Me pertenciam olhos que há muito tempo perderam o brilho. Me pertencia um coração meio vazio e uma alma conturbada demais. Nunca soube dizer se gostava mais de morango ou chocolate, se queria amor ou amizade. Observei o mundo com olhos de artista até começar a me perguntar se era artista. Já estou velha demais para uma crise de identidade, mas ainda sou nova demais para aceitar o que suponho ser o destino. Recebo rosas, cartões postais, beijos de boa noite, sorrisos ao chegar. Recebo amor e já não sei se o sei como dar. 
      Sou formada por aquelas batidas de bateria, pelas falsas notas de piano e pelos acordes no violão. Tenho também um pouco do barulho que o msn fazia, das músicas que tocavam no sinal da escola, do chiado que meus fones faziam todas as manhãs. Sou formada pelas conversas que ignorei e que fui ignorada, pelas tiradas que dei nas baladas e pelos beijos apaixonados que me foram roubados. Guardo um pedaço dos corações que conquistei e uma memória dos que pensei ter. Tenho latinhas de Coca-Cola que estalam no meu peito junto aos copos de vodka e taças de vinho. Tenho bons comentários escritos nas minhas provas e algumas aprovações no vestibular. Sou um pouco da arquitetura que aprendo todos os dias, da mochila lotada de esquadros e lápis de cor. Sou ainda as noites no computador e as filosofias jogadas pela janela quando o sol já não quer entrar. Tenho poesia e arte na alma e, como se fosse pouco, tenho a indecisão do que sou.
     Conquistei meus sonhos e já não sei se reconquistei meus sorrisos.  

sexta-feira, janeiro 31, 2014

Entrelaçado à Alma.



Importante dizer que ama, mas só é permitido se pretende nunca deixar partir. Ele amava. Amava coisas não muito bonitas, histórias de guerras, guitarristas descabelados e jogos de futebol. Entretanto amava coisas de encher os olhos e ir penetrando na alma. Amava adquirir diferentes conhecimentos, amava cachorros, amava a sonoridade de uma música que vai além dos ouvidos. Entre as coisas mais bonitas que ele amava estava o amor. Para ele, o amor apareceu assim, em uma forma mais desajeitada, com dificuldade de atravessar a rua e conversar sem dar pane total. Apareceu assim, tropeçando nos próprios sapatos, assistindo filmes de desenho animado, queimando as maçãs do amor. Apareceu com um sorriso bobo que faz cócegas na garganta, nem que seja para rir da sua cara de tola. Apareceu incorporando uma pose segura ao calçar um par de saltos. Ela era desastrada, desorientada e pirracenta. Porém também era engraçada, artista e bom... autêntica. Eram opostos que de tão contrários acabavam iguais. Temperamentos fortes, explosivos, orgulhosos. Perfeitos um para o outro. Se eu não te amasse tanto assim, já teria te deixado fechar a porta. 

terça-feira, janeiro 28, 2014

Wonderland


Conseguia se imaginar em cenas contraditórias de um filme francês de gosto duvidoso. Mentes pegando fogo. Difícil entender a mente de quem sempre foi tão... autêntico. Vidros despedaçando em volta de si. Olhos que se abrem lentamente. Silencie já que ninguém está por perto. O sofá da sua vida finalmente está vazio, sem marcas de traseiros parasitários. Quem deveria entender, não entende. A verdade é essa. Se é autêntico é incompreensível. A beleza enxia-lhe os olhos, enfiava-se nas entranhas e preenchia seu ser. Mesmo que por um tempo extremamente restrito, sentia-se compreendido. Entretanto esse tipo de coisa não dura muito. Encontrava um quadro realmente antigo em casa e o observava na esperança de descobrir tal sentimento. Esse vinha, dominava-lhe e partia. Tudo como um bom par romântico que resultaria em meses de lamentação, porém era muito mais complexo que um amor de verão. Continuava a observar a pintura, não sentia mais nada. Estava vazio novamente, como um belíssimo vaso de cerâmica que, com um beijo apimentado do vento, jogava-se do parapeito da varanda em um arrematador abraço com o chão que o reduziria à pó. A complexidade torna tudo uma pequena visita à Wonderland.