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sábado, agosto 13, 2011

Precisava-se de um amor.


Rabiscava estrelas em um céu nublado. Tudo parecia melhor daquele lugar, com as pernas jogadas para fora da janela, o corpo disposto sobre a cama. Fechou os olhos por um instante. Instante passou rápido. Começara a amanhecer. As luzes da cidade ainda não haviam apagado. Teoricamente, ainda era noite. Esfregou os olhos, prendeu o cabelo, foi fazer café. Café a moda antiga, coloca a água para ferver, enche o filtro de pó, fica naquele ciclo até o bule encher. Sentou na porta da cozinha. Cheiro de novo dia. Desejava mais uma vez:
-Quero noites estreladas, vida cheia de amor. Quero sorrisos que saem sorrindo, alguns instantes de calor.
Desistia novamente dessa história. Como sempre, sabia que não foi feita para nada daquilo. Uma volta pela sala, uma volta pelo quarto. Decidiu sair após semanas dentro de casa. Tomou um banho, trocou de roupa, pegou a bolsa e um pouco de esperança. Desencostou a bicicleta da garagem. Vento nos cabelos, sensação de bem estar. Começou a pensar. (Droga, logo agora?) Lembrou-se dele, de seus cabelos perfeitamente cacheados, dos seus olhos esverdeados e do seu sorriso desajeitado. Sentiu-se mal novamente. E mais uma vez não entendia como momentos felizes acabam tão fácil. Não se lembrava de quando as brigas começaram, lembrava-se somente das histórias, das risadas, das noites abraçando-o, sentindo-se amada. Encostou a bicicleta em um passeio. Sentou-se lá mesmo.
- Talvez tudo tenha apenas seguido seu rumo.
 Uma voz que vinha pelo fundo falou-lhe calmamente, com jeito de quem compreendia mesmo sem saber a que se tratava. Ela, com a cabeça rebaixada, respondeu:
-Pois é. Talvez.
Aproximando-se, continuava a falar:
- Amor né?
-Aham.
-Sempre é.
A garota levantou a cabeça, meio que curiosa, meio que atenciosa. Surpreendeu-se. Era um garoto, aparentava não ser muito mais velho. Sujo de terra com algumas mudas de margaridas nas mãos. Incrivelmente bonito apesar da situação. Sorriu, sabe-se lá porque. Puxando assunto, ele continuou:
-Você é daqui?
Ela estranhou, em uma cidadezinha tão pequena facilmente reconheciam-na como a nova moradora da casa do fim da rua. Respondeu:
-Eu? Eu não. Me mudei a pouco mais de um mês, precisava renovar os ares. Pensei que mudar me faria esquecer da vida, enganei-me. Mas e você? É daqui?
-Gostaria de ser. Apaixonei-me por esse lugar pacato. Mas me mudei essa semana. Estou terminando de ajeitar o jardim. Gostaria de ajudar-me?
Ajudou. Caiu em risadas com direito a duchas de água enquanto um não olhava o que o outro fazia.
-Que tal um café? – Ele lhe oferecera cordialmente.
-Claro. – Nunca recusara um café.
Acabaram criando um costume de passar as tardes juntos.
Ela só tinha em mente o garoto dos cabelos negros e olhos azuis. Aquele mesmo que encontrou tão por acaso sujo de terra.
Ele por sua vez, tão misterioso, tão único, tão fascinante, havia se fascinado pela garota dos cabelos ao vento.
Não precisa-se dizer muito sobre o que aconteceu depois né? Os dois têm vivido por ae, plantando margaridas no jardim. Jardim da casinha com janelas azul anil, bem ali no fim da rua. Regando tudo com amor daqueles que ela nunca imaginaria um dia ter para ti.

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