Pesquisar este blog

sábado, maio 14, 2011

Linhas de amor.


A rua estava lotada de carros e uma senhora estava sentada em um banco na porta de um antigo prédio abandonado. Ela ficava ali observando quem ia e vinha naquela imensa correria. Deveria ter o que? Setenta e oito, oitenta anos nas costas. Uma garota sentara ao seu lado, assim, sem dizer nada. E a observara. Começaram a conversar, a senhora contou-lhe toda a história de sua vida, que havia crescido em uma família rica e que trocara tudo por um amor que os pais não aceitavam. Que abandonara dinheiro para ter felicidade. Porém que certa vez arrependera da escolha, não reconhecendo os sorrisos que aquela vida trazia. Que havia voltado para a casa de seus pais e prometido nunca mais procurar o rapaz. E ele sempre tentava manter contato, telefonava, enviava cartas, ia até sua casa, mas ela estava decidida que não o amara mais. Os anos passaram, junto deles, as cartas foram parando e ela sentindo cada vez mais falta dele. Resolvera procurá-lo à alguns anos, tudo o que encontrou foram notícias de que ele falecera após uma vida inteira amando de longe. A garota, agora emocionada com a história, levantou-se do banco com um certo ar determinado. A senhora colocou a mão sobre seu ombro e disse:
- Seja quem for o seu amor, corra atrás, diga que o ama, segure sua mão e cuide de seu coração. Eu não corri para os braços do meu e hoje estou aqui, enlouquecendo com toda essa dor. Não cometa o mesmo erro, minha querida.
A menina, segurou as mãos daquela vivida mulher de cabelos grisalhos.
- Preciso ir, obrigada por tudo. Agora, se ele passou a vida a amando e você ainda o ama, estiveram todo esse tempo ligados pela alma, ele ainda esta com você.
As duas sorriam enquanto a garota se perdia em meio à multidão que transitava na rua.
Agora em uma rua mais calma, completamente diferente da que estava há poucos minutos, a menina suspirava, talvez de medo, talvez de raiva. Aproximou-se de uma gigantesca casa que parecia estar ali a mais tempo do que ela podia contar. Abriu o enferrujado portão sem fazer muito barulho.  Bateu três vezes na porta. Nem um mosquito parecia estar vivo. Virou de costas retomando a trajetória até o portão. Uma voz vindo do jardim a fez arrepiar:
- Oi?
Ela não pensara duas vezes, sairá correndo em meio a todos aqueles vasos e flores, pulara agarrada ao pescoço daquela voz única e congelante.
- Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. – Repetia três vezes com lágrimas nos olhos.
O garoto a abraçara com as mãos sujas de barro.
- Estava plantando essas rosas para você. Pretendo fazer com que elas durem pra sempre. Assim poderei lembrar-me do seu sorriso a cada vez que regá-las.
- Porque não olha para o meu sorriso enquanto as rega?
- Porque você vai partir esqueceu-se? Você mesma me disse ontem que estava cansada dessa cidade, dessa vida...
- Mas você irá continuar aqui. E eu posso ir para qualquer lugar do mundo que será terrível sem você.
Ele pegou-a pela mão e foram entrando para a cozinha. Ela, como sempre, não parava de falar:
- Amor, conheci uma senhora hoje que nossa, é a cara daquela foto antiga que tem em cima da lareira daqui da casa que era do seu vô...
Ele pegou-a pela cintura, deu-lhe um beijo e disse:
- Será que você não para mais de falar não?
Começaram a rir. E depois de um café foram terminar o jardim. E provaram a cada dia um ao outro que o amor pode sim trazer a felicidade em si.

Nenhum comentário:

Postar um comentário