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domingo, dezembro 04, 2011

Pensava, libertava-se.


Se cansou dos romances e das lágrimas. Abriu um sorriso verdadeiro aquela noite.
-Quer saber? Foda-se. -Gritava olhando seu reflexo no espelho.
Na mente, tinha a certeza que ela realmente, como ouviu muitas vezes, era boa demais para ele. Não que ela não o ame mais, ela ama, mas de um jeito diferente. Ficou no passado, passado que será lembrado com carinho. O importante hoje não era nada disso. Hoje se tratava do que ela era. E sabia que era muito. Desligou a mente, não queria pensar em nada. Ela percebeu que o amor da sua vida pode esbarrar com você na rua, mas você não percebe porque está ocupado demais sofrendo por quem não merece. E gato, quando ela percebe algo do tipo, esqueça seu nome. Ela não vai mais te ouvir. 
Se sentia um turbilhão de emoções. Esforçava-se para enforcá-las e deixar apenas a felicidade viver. Fechou os olhos por um momento. Adquiriu consciência sobre quem era. Memórias passaram rapidamente pela sua mente. Tanta coisa boa, mas eram apenas memórias. Hora de deixá-las guardadas na caixa de papelão etiquetada e ir viver. E que venham as novas pessoas, idéias, risadas e memórias.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Latas de amor.


Dias atrás acordei destinado a achar meu rumo. Sorri para a menina que encontrava-se deitada ao meu lado. "Qual era mesmo o nome dela?" Pensei enquanto calçava minhas meias pretas. Peguei meu casaco que estava jogado em um canto qualquer daquele quarto desconhecido por minhas vistas. Ajeitei o cabelo no espelho da sala, saí daquele lugar, desci as escadas. Com a cabeça ainda dolorida da vodca exagerada na noite passada, fui para casa. Joguei as chaves sobre a mesa, entrei na cozinha como quem procurava por alguém em especial. Não encontrei ninguém. O café de ontem ainda estava sobre a pia. Entrei no banho, encostei-me na parede enquanto a água descia pela minha nuca. Deitei na cama e dormi. Ao acordar lavei o rosto e fui me sentar na praça do outro lado da rua. Ver o movimento da rua, sei lá, esfriar os pensamentos. Avistei um homem catador de latinhas virando a esquina. Uma das sacolas que ele carregava arrebentou, espalhando todo o seu conteúdo pela rua. Ligeiramente o mesmo se desesperou em catá-las. Intrigou-me ver todas aquelas pessoas passando por ele sem ajudá-lo. Levantei do banco, ajudei. O homem parecia surpreso por tal ajuda. Agradeceu-me. Ambos viramos as costas para seguir nossos rumos, porém algo me dizia sobre o cansaço que ele não estaria sentindo. Olhei-o novamente nos olhos:
-Aceita um café?
-Ô meu filho, aceito sim. Trabalhar é difícil depois que a idade lhe toma.
Fui até a padaria, comprei alguns sanduíches e um copo de café. Sentei-me ao seu lado enquanto o senhor devorava o lanche. 
- É difícil achar alguém com um bom coração assim ultimamente. - Ele me disse.
Surpreendi-me, afinal eu podia ser tudo, menos de bom coração. Alguém de bom coração não trocaria de mulher todas as noites, não se jogaria na vida como eu.
- Quem me dera. -Respondi baixinho.
-Como assim "quem me dera"? Ninguém com um mau coração estaria fazendo tudo isso por outra pessoa que nunca viu.
Sorri e abaixei a cabeça. Conversamos mais um pouco, ele me contou um pouco sobre sua vida:
-Costumava ser um médico renomeado, arrogante, casado, apaixonado por minha esposa e minha filha. Infelizmente, Deus tirou-as de mim em um acidente de carro anos atrás. Desde então me perdi na vida.
-Mas você foi feliz? -questionei-o.
-Tenho meus arrependimentos, como nunca mais ter visto minha mãe após uma briga, mas posso dizer-lhe que sim.
-Então é isso que conta.
-Mas e você, garoto, é feliz com sua vida?
-Sou. -respondi após um longo tempo pensando.
-Certeza?
-Sou arrependido também.
-Pelo que?
-Por ter deixado a garota que mais me fez bem partir.
-Ela é única?
-É, ô se é.
-Então o que esta fazendo aqui conversando com esse velho? -O mesmo sorriu.- Vai lá, corre.
-Quer saber? Eu vou. Obrigado por tudo. Foi um prazer conhecê-lo.
Me perdi virando a esquina. Entrei em casa, juntei algumas mudas de roupas e fui para a rodoviária. Comecei a ver a paisagem urbana se desfazendo. Desci naquela cidadezinha que havia deixado para trás a tanto tempo. Fui até sua casa, bati na porta. O coração pulava, queria ir embora, não fui. Ela atendeu:
-Oi?
-Oi. Tudo bem?
-Tudo indo. E você?
-Tudo horrível sem sua companhia.
-Porque foi embora então?
-Porque eu odiava esse lugar. Agora odeio ficar sem ele.
Ela riu.
-Você é um idiota indeciso.
-Sou o seu idiota. Me desculpa?
-Claro.
-Eu te amo. -Beijei-a.
Acabo me encontrando hoje nessa janela antiga de madeira, preparando-me para meu casamento. Ignorei a parte da vida que dizia para não se apegar. Ignorei qualquer coisa sobre os males que o amor podia te causar. Fechei a janela e fui me casar.

domingo, novembro 13, 2011

Vento na janela.


          Sentava-se a beira da janela naquela noite de tempestade, a chuva, o vento, os relâmpagos tocavam o vidro, o sorriso refletia-se sem sentido. Saudade dominava o peito. A sonhadora menina apaixonava-se cada dia mais pelo garoto do sorriso sincero. Recordava-se da história, de tudo que se passou em quase dois anos. E lembrava da primeira vez que ouviu falar do tal menino e de que mesmo sem conhecê-lo, mesmo com um tempero de ciúmes por ter conquistado aquele por quem tinha uma enorme simpatia, acalmou-se e ajudou-o indiretamente naquela noite. Trechos da conversa vêm à sua mente. Seu desespero, que tomou-lhe conta pela tal alma que até poucos minutos desconhecia a existência, voltava ao peito. E desde aquele momento sentiu algo forte, só não sabia se era algo bom ou ruim. Com o tempo o sentimento começava a tomar forma, a fez segurar firme sua mão sempre que foi preciso. A fez voltar atrás de todas as discussões. Hoje sorria sozinha ao perceber as linhas tortas que escreveram o amor em suas veias. Suspirava profundamente ao observar sua fotografia. Ainda não compreendia como poderia existir na vida sentimento tão forte capaz de lhe fazer perceber quando ele perdia-se afrontado em seus pensamentos. Desistia dessa reflexão complexa, pegava o celular:
          - Alô? - Ele atendeu.
          - Oi, me desculpa?
          - Pelo que?
          - Por não ter lhe dito o quanto você me faz bem.
          O silêncio dominou o telefonema.
          - Tô indo ae, me espera. -Ela continuou.
          Interfone chamou, a chuva não dava trégua. Ele abriu a porta, saiu debaixo do temporal. Encontrou em meio a tanta água que caia do céu, encontrado em tonalidade alaranjada, o calor de um abraço firme seguido por:
           - Eu te amo. Senti saudades.
          Ele sorriu. Daquela maneira que só ele sabia sorrir. Beijou-a e disse com um jeito de quem fingia não se preocupar:
           - Entra vai, troca de roupa, você vai gripar.
          E assim ficaram lá, tomando café, rindo de suas próprias bobagens, matando as saudades que a vida insistia em colocar entre os dois. Ainda não sei muito bem se tudo isso daria mesmo certo, mas havia de dar. Existia amor e isto bastava para trazer-lhes um sorriso essa noite.

segunda-feira, outubro 03, 2011

Ácida primavera.



E por ironia do destino, a vida seguia. O que começou como despedida, hoje prosseguia. O sorriso no espelho me dizia que porra, erramos pra caralho. Mas um errar nunca foi tão bom, nunca foi tão engraçado, tão sensível,  tão feito de amor. O "e se" desmanchou-se como balas de limão naquela doce tarde de Setembro. O "minha" tornou-se eterno. A primavera perfumava o céu com flores roxeadas. O sorriso fixou-se na mente ao lembrar que você existia. A saudade passou para desejar-nos bom dia. As lágrimas lavaram a alma, trouxeram novos tempos, novas esperanças. Não sei o que sinto, não sei o que deveria sentir, mas peço de olhos fechados, que essas borboletas navegando por mim sejam amor por ti, por ti, por ti. Sorri. A acidez da distância quilometrada neutralizou-se com a base fundamentada de corações emendados entre si. E eu só sei pensar em ti e esperar que as calmas águas de Dezembro tragam-lhe para mim. Se não for amor, é coisa melhor.

Ventava-se na mente.


Brincava de escrever para dizer que tinha uma alma. Não tinha mais nada. O cansaço, o desgaste, a vida, sugaram-lhe tudo. Até a última gota de sonhos, esperanças e sorrisos. Observava o brilho das estrelas, queria um pouco daquilo, um pouco de magia. Não tinha nada. E os ventos ventavam de um lado para o outro, arrancavam gravetos, brincavam de se vingar de todas as vezes que as janelas não os deixaram entrar. A pipa não se importava, dançava no ar. A menina sorria com o cabelo parecendo flutuar, sua bola de chicletes fazia toda a tarde estalar. Acabei por acreditar que o sorriso voltava como quem olhava pra trás. Aumentei a vitrola de madeira, fui-me embora a dançar.

domingo, agosto 28, 2011

Desfizeram-se as asas.



Em minhas plumosas asas não restam mais plumas.
No pensamento a vida tem passado rápido demais.
O sorriso se desfez como bolhas de sabão.
A história continuou.

Desta vez os anjos sussurram em meus ouvidos,
que a você pertencem meus sorrisos.

A felicidade veio ao encontro.
Sinto um sentimento no espírito.
Nos sonhos de ontem anoite,
avistei seu sorriso.

E o meu menino? Ah o meu menino.
Meu menino esta planando, flutuando por aí.
Ele tem nas pontas dos dedos as mais belas palavras,
nos lábios as mais magníficas gargalhadas.

Encantou-me com tudo que vi.
Apaixonei-me pela alma.
Pela contradição do bem-te-vi.
Apaixonei-me por tudo que o Limão é pra mim.

sábado, agosto 13, 2011

Precisava-se de um amor.


Rabiscava estrelas em um céu nublado. Tudo parecia melhor daquele lugar, com as pernas jogadas para fora da janela, o corpo disposto sobre a cama. Fechou os olhos por um instante. Instante passou rápido. Começara a amanhecer. As luzes da cidade ainda não haviam apagado. Teoricamente, ainda era noite. Esfregou os olhos, prendeu o cabelo, foi fazer café. Café a moda antiga, coloca a água para ferver, enche o filtro de pó, fica naquele ciclo até o bule encher. Sentou na porta da cozinha. Cheiro de novo dia. Desejava mais uma vez:
-Quero noites estreladas, vida cheia de amor. Quero sorrisos que saem sorrindo, alguns instantes de calor.
Desistia novamente dessa história. Como sempre, sabia que não foi feita para nada daquilo. Uma volta pela sala, uma volta pelo quarto. Decidiu sair após semanas dentro de casa. Tomou um banho, trocou de roupa, pegou a bolsa e um pouco de esperança. Desencostou a bicicleta da garagem. Vento nos cabelos, sensação de bem estar. Começou a pensar. (Droga, logo agora?) Lembrou-se dele, de seus cabelos perfeitamente cacheados, dos seus olhos esverdeados e do seu sorriso desajeitado. Sentiu-se mal novamente. E mais uma vez não entendia como momentos felizes acabam tão fácil. Não se lembrava de quando as brigas começaram, lembrava-se somente das histórias, das risadas, das noites abraçando-o, sentindo-se amada. Encostou a bicicleta em um passeio. Sentou-se lá mesmo.
- Talvez tudo tenha apenas seguido seu rumo.
 Uma voz que vinha pelo fundo falou-lhe calmamente, com jeito de quem compreendia mesmo sem saber a que se tratava. Ela, com a cabeça rebaixada, respondeu:
-Pois é. Talvez.
Aproximando-se, continuava a falar:
- Amor né?
-Aham.
-Sempre é.
A garota levantou a cabeça, meio que curiosa, meio que atenciosa. Surpreendeu-se. Era um garoto, aparentava não ser muito mais velho. Sujo de terra com algumas mudas de margaridas nas mãos. Incrivelmente bonito apesar da situação. Sorriu, sabe-se lá porque. Puxando assunto, ele continuou:
-Você é daqui?
Ela estranhou, em uma cidadezinha tão pequena facilmente reconheciam-na como a nova moradora da casa do fim da rua. Respondeu:
-Eu? Eu não. Me mudei a pouco mais de um mês, precisava renovar os ares. Pensei que mudar me faria esquecer da vida, enganei-me. Mas e você? É daqui?
-Gostaria de ser. Apaixonei-me por esse lugar pacato. Mas me mudei essa semana. Estou terminando de ajeitar o jardim. Gostaria de ajudar-me?
Ajudou. Caiu em risadas com direito a duchas de água enquanto um não olhava o que o outro fazia.
-Que tal um café? – Ele lhe oferecera cordialmente.
-Claro. – Nunca recusara um café.
Acabaram criando um costume de passar as tardes juntos.
Ela só tinha em mente o garoto dos cabelos negros e olhos azuis. Aquele mesmo que encontrou tão por acaso sujo de terra.
Ele por sua vez, tão misterioso, tão único, tão fascinante, havia se fascinado pela garota dos cabelos ao vento.
Não precisa-se dizer muito sobre o que aconteceu depois né? Os dois têm vivido por ae, plantando margaridas no jardim. Jardim da casinha com janelas azul anil, bem ali no fim da rua. Regando tudo com amor daqueles que ela nunca imaginaria um dia ter para ti.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Nada muito diferente de amor.


Vento nos cabelos, tarde pacata. Esbarrara no vizinho da casa da frente. Sorriso sem graça vindo de ambas as partes. A história dos dois não acabou da maneira como imaginavam. Da janela no outro lado da rua, ela o via as vezes, seguindo com a vida, deixando o vento seguir sua direção. E ela continuava ali, com a mesma xícara de café de sempre, o mesmo corte de cabelo de sempre, os mesmo pensamentos de sempre. 
Levara o cachorro para passear nessa manhã, esbarraram-se novamente. Começaram a conversar. A conversa durou horas. Os olhares pareciam ter sido congelados. Ainda existia amor. Amor que por um motivo que não lembravam-se mais, não podia acontecer. O problema é que o amor acontece mesmo que você queira impedi-lo. Talvez você não esteja ao lado da pessoa, mas o amor esta. Ai acabaram todos seus planos de esquecerem-se.
Aquela história de nós, parecia mais agradável do que aquela onde ela era apenas e somente ela e ele era apenas 3 letras que algum dia fora tudo.
Meu coração disparava com os olhos fechados. Pensava se talvez a sua vida deveria unir-se a minha. Naquele momento você atravessou a rua, jogou uma pedra na minha janela. E nós, rindo daquela cena à la Romeu e Julieta, daquele amor confuso, acabamos deitando no jardim e como nos velhos tempos, você abraçava-me para espantar o frio e eu lhe perguntava o que houve com a gente. Você respondia-me o sei lá mais lindo do mundo. E completava com um: Só sei que nada é tão bom quanto estar ao seu lado. 
E assim a gente se acertava mais uma vez, mesmo sem saber o que espera-nos no futuro. Só sabíamos que hoje era amor, amor que não podia ser contido.

quinta-feira, julho 28, 2011

Vida em mudança.


Amanhecera novamente com aquela mesma ideia surreal de que o dia seria perfeito. Não foi. Levantara da cama pensando em uma xícara de café a sua espera. O café não estava pronto naquele dia. Abrira as cortinas à procura de um pouco de sol para aquecer dentro de casa. O céu estava nublado. Você fazia falta naquele dia, naquela casa, naquela vida. Fora regar as plantas sabendo que não encontraria se quer uma viva. Encontrou novos botões de margaridas. A face abriu um sorriso. O cabelo dançava com o vento. O resto da alma se convidou. Liberdade, a ventania soava nos ouvidos. Talvez fizesse falta, mas não naquela manhã. Minha alma me pertencia. Seu lugar não era aqui. Esqueci seu nome, seu endereço, seu telefone. Não esqueci o amor, pois um dia esse amor tomara conta de mim. Guardei-o na caixinha de lembranças. E quando sentir saudades, abro a tampa, mando felicidades. 

terça-feira, julho 26, 2011

Confusa(mente) Coração.


É sempre assim, não sei muito bem o que pensar ao encontrar-lhe. Talvez ainda exista algo que não deve ocorrer. Faz passarem milhares de coisas pela minha confusa mente. Digo ao coração que ele nada sente. Ignora-me, ele sente. Sempre sentiu. Calo-me e lembro que é algo forte o suficiente para me fazer desejar felicidade independente de com quem você a encontre. Confundo-me ainda mais. Quais as chances de que novamente esteja errada? Prefiro o silêncio a estragar seu sorriso. Encantador sorriso. Jogo na vida. Se for parte de mim um dia ocorre. Mesmo sabendo que jamais vai ocorrer, afinal minhas possibilidades de felicidade parecem não terem sido feitas para acontecer. Existem apenas para deixar-me iludir com o "e se...".  A cabeça se confunde sem o tradutor de coração. Acho que preciso parar de tentar desvendar sentimentos e apenas... senti-los.

sábado, julho 02, 2011

O amor na janela ao lado.


Ineficácia invade-me a mente em mais uma solitária tarde. O sorriso não tem nenhum sentido. As lágrimas hoje caem sem motivo. O que acontece comigo? Não sou nada ao mundo, acho que enfim dei-me conta disto. Não ousaria continuar se desconhecesse o fato de que tornaria-me apenas mais uma coisa inacabada. Jogo-me ao vento esperando ver o que acontecerá de novo nessa cidade pacata. Uma sonoridade diferenciada invade a rua. Direciono-me a janela para observar o que estaria acontecendo por ali. Garotos da minha idade conversam na calçada enquanto cantam músicas antigas parecendo não importarem com nada. Provavelmente, se o mundo estivesse acabado naquele momento, continuariam ali, sem se preocuparem. Devem ser amigos do novo vizinho, só cruzei com ele algumas vezes durante o tumulto habitual. À algumas semanas eu não pensaria duas vezes, iria para a rua, apresentaria-me e permaneceria ali. Porém, atualmente, não sou mais esse tipo de garota. Sou aquela que passa calada, na dela, fingindo não ver nada acontecer. A campainha toca despertando-me dos meus escassos pensamentos no parapeito da janela recém envernizada. Abro a porta com a mesma feição comum de fastio. Era o recém chegado vizinho.
- Por acaso aí tem gelo? Esqueci de encher as formas e a cerveja ta quente.
- Sei lá, acho que tem. Entra ai. Cerveja quente é um porre né?
- Não suporto.
Aquelas risadinhas sem graças de quem tentava puxar assunto dominaram a sala. Entreguei-lhe a forma enquanto ele dizia:
- Valeu, quebrou um galhão. Por acaso a gente ta incomodando? Meus amigos são um pouco barulhentos.
- Nada, sem problema, eu gosto de barulho. Essa rua geralmente é silenciosa demais.
- Vem aqui pra fora, eu te apresento pra eles. Isso é, claro, se não estiver fazendo nada...
- Ah deixa pra outro dia.
- Hum... Tudo bem então. Obrigado pelo gelo.
O som da porta ecoou casa a dentro enquanto perguntava-me por dentro, porque afinal de contas haveria recusado o convite. Eles faziam o meu estilo comum de amigos, uma leve pegada de rock mesclada em gargalhadas e ótimos cortes de cabelo. Deixei pra lá, fiz um chá e adormeci ali no sofá. Acordei com o sol invadindo meus sonhos ao entrar pela fresta da cortina. Fiz o café e fui delicia-lo na varanda da frente. Não demorou muito o tal garoto apareceu rangendo os degraus e perguntando se poderia se sentar. Permanecemos ali por horas, jogando conversa fora. E assim começou a ser todas as manhãs com o vizinho do jeans surrado. Diferente do restante das pessoas, ele parecia não cansar-se do meu tédio contagioso ou da minha risada escandalosa. Não precisava de convite, ele só vinha. Essa noite bateu a minha porta à meia noite, puxou-me pelo braço e derrubando-me no gramado dizia com um sorriso no rosto:
- Olha a lua.
- Lua crescente.
- Não, OLHA a lua.
- Como assim?
- Ela ta linda. Parece que se esticarmos o braço, poderemos tocá-la.
- É, ta linda mesmo.
Fixou os olhos sobre mim.
- Sabe o que é mais lindo que a lua?
- O que?
- O jeito como seus olhos brilham.
E beijou-me, daquela maneira meio desengonçada que só ele sabia ser. Depois pegou o violão que havia encostado na parede de sua casa.
- Olha o que compus.
E tocou a mais bela das canções que eu já ouvira. Todo o mundo parecia haver desaparecido. Existíamos apenas nós. Acabei por adormecer ali no jardim. Acordei na sala abraçada por ele. Quanto tirei satisfações de como havia ido parar ali, ouvi um:
- ETs te abduziram e deixaram você ai.
Após diversas risadas, disse que me trouxera para dentro por lá fora estar muito frio e que acabou por dormir aqui. 
- Folgado.
- Pelo menos eu te carreguei.
Beijei-o. Não sei muito bem porque, mas ele era tão encantador... Alguns meses depois, toda a chatisse, o tédio e o desânimo me abandonara graças a presença daquela criatura perturbadora e adorável. Não sei muito bem, acho que apaixonei-me pelo garoto da janela ao lado.

quinta-feira, junho 30, 2011

Como pode ser amor?


Começamos do trágico, já programando a despedida. Cada dia era uma mistura de felicidade, esperança, alívio e gargalhadas. A cada noite, desesperava-se. Diferente da grande maioria, não permiti que você me afastasse. Sempre houve algo mais forte que me puxava de volta e dizia: Calma, respira fundo e dá tudo de ti. Mesmo sem conhecer-te, era importante. Era um pedaço mim. Se você estivesse bem, a felicidade tomava-me conta. Se estivesse mal, uma parte minha morria enquanto a outra tentava mantê-lo comigo. Você deu-me os melhores conselhos, as melhores risadas e a cada dia, mais força para continuar viva. Inevitavelmente, apaixonei-me. Com o sentimento mais forte possível. Entreguei-lhe o coração enquanto pedia aos céus para que não tirasse o mais sincero sorriso da minha face. A saudade tem apertado, mas o coração sempre lembra que a vida contigo vale muito mais a pena. Mesmo com o começo às avessas ou com toda a distância impedindo o abraço. Mesmo sem o filme na noite de sábado ou as lágrimas sobre o travesseiro. Sempre que a vida pergunta-me como pode ser amor, minha resposta, sempre é um: Sei lá, só sei que é. É amor dos difíceis de compreender, daqueles que mesmo que não acabemos juntos, daqui a 50 anos, eu ainda me lembrarei de você.

segunda-feira, junho 13, 2011

Como o vento, ia e voltava.



       Era quase manhã quando ele partira. Estava frio, daqueles que me congelava os dedos. Lembro-me bem de seu casaco preto, quase um sobretudo, o seu cabelo bagunçado pelo vento, a boca avermelhada pelo frio. Beijou-me a testa antes de ir.
- Eu volto.
Deu-se de ombros e seguiu em direção ao carro. Tentei alcançá-lo, não consegui. Minhas meias escorregaram no piso de madeira. Quando cheguei a porta do jardim, ele já havia ido. Gritei às flores que plantamos juntos naquele outono:
- Sentirei sua falta.
Um silêncio enlouquecedor me respondera que não era possível que ele me ouvisse. E assim seria dali pra frente. Deveria acostumar-me com sua ausência. Tentei, juro que tentei, mas era algo muito mais difícil do que esquecer um número de telefone. Estava tentando esquecer de quem abria-me o sorriso pela manhã. Sempre que tentava esquecer que ele não estava ali, uma parte de mim sentia uma saudade inexplicável, daquelas capazes de fazer-me adoecer. Já a outra, bom, a outra nem ao menos existia sem ele.
Aquela não era a primeira vez que tentava me ocupar para não sentir que havia ido. Ele, a cerca de um ano, ia e a cada vez que voltava, a alma acreditava que dessa vez permaneceria. Mas sempre ia novamente, era preciso, eu não sabia muito bem porque só que nunca o questionei. E eu voltava sempre ao mesmo sofá, recolhida aos pensamentos de sempre, de que um dia ele volta, nem que seja para matar a saudade por pouco tempo.
A senhora do fim da rua era daquelas agradáveis companhias. Sua casa tinha um ar de casa de avó, com cortinas florais azuis cobrindo velhas janelas de madeira. Era uma grande amiga, todas as tardes dirigia-me a sua casa, onde passávamos horas conversando sobre a vida e tomando chá na varanda. Certa vez ela me perguntou porque esperar logo por você, entre tantos outros. Permaneci em silêncio. Após um longo suspiro a respondi:
-Não sei, acho que o amo. E esse amor é dele, é o único a quem posso dá-lo.
Ela ficou pensativa. Acho que não compreendia muito bem o que eu tentava dizer.
Alguns meses depois ele apareceu na minha porta, trazia contigo meia dúzia de rosas e um sorriso lindo que encantava-me. Entregou-me as flores, beijou-me e segurou minha mão.
-Sinto muito tê-la feito esperar, eu precisava fazer algumas coisas antes deste dia.
Ajoelhou-se.
-Gostaria de casar-se comigo?
Surpresa, fiquei parada olhando para ele, quando enfim percebi o que estava acontecendo, respondi que sim. Enfim o perguntei:
-Porque tantas idas e voltas?
Com as bochechas rosadas ele me respondeu:
-Estava trabalhando fora da cidade ganhando um pouco para que pudesse ajeitar a vida antes de pedir-lhe em casamento. Voltava sempre por não aguentar a saudade de você.
Agora, algumas semanas depois, vejo seu sorriso todas as manhãs, aquilo espanta qualquer problema. Sem dúvidas há amor, se fosse diferente nenhum dos dois suportaria aquele cansativo ano sem abraços no fim de tarde ou beijos de boa noite.

sábado, maio 21, 2011

Corações.


          Ele tinha uma coisa esquisita no peito.  Um sentimento que não sabia descrever. E quebrava outros corações para sobreviver, alimentava-se disso. Sanguinário indeciso. Com sutileza, andava pelas ruas como quem nunca viveu nada que fizesse a vida ter sentido. Sentou-se em um banco qualquer, se perdia em meio ao alaranjado que o sol de fim de tarde trazia. Sentiu alguém se aproximando, olhou para o lado. Uma garota sorria para sua direção encostada em uma árvore qualquer. Olhou para os lados, era a única pessoa presente ali. Ela estaria mostrando os dentes, naquela estranha maneira de dizer que gostou, logo para ele? Ignorou-a. Direcionou o olhar para outro lugar na esperança que ela saísse de lá. De nada adiantou. A garota aproximou-se.
          - E aí? – Perguntou com ar de quem se importava.
      - Bom e você? – Respondeu abaixando a cabeça lamentando-se. Queria solidão, não gostava de pessoas.
          -Uhum.
           Ela sentou-se ao seu lado, mesmo sem convite, apenas por simpatizar-se. Alguns minutos sentados lá permanecendo em silêncio intocável. Quase se ouvia o mosquito pairando em torno do poste de luz. Os olhos curiosos da garota olharam-no novamente, gostou ainda mais. Ele, ao ver novamente aquele sorriso estranho formar-se, questionou:
           - O que foi? – Sempre seco a cada conjunto de poucas palavras que mencionava.
        - Nada, você é diferente dos outros caras. Não sinto medo de permanecer ao seu lado. Não sinto medo do que você vai pensar.
          Ele estranhou a fala de sua atual companheira de banco. Estava acostumado à pessoas que tremeriam apenas de vê-lo passar pela rua. Mas não a disse nada a respeito. Rendeu assunto: - Corajosa você. Porque medo dos outros?
        - Porque eles parecem sempre me julgar. – Sorriu mais uma vez, porém com jeito de sorriso que esconde lágrimas no fundo.
           - Sei como é. – Começava a criar um tipo engraçado de simpatia a qual não conseguia explicar.
          A garota do banco de fim de tarde encantava-o com seu jeito de nunca parar de falar. Ele não sabia o que sentia. Era algo diferente. Algo que despertava uma pequena parte de seu lado humano. Acreditava ter o perdido há anos. Mas com ela, naquela tarde que virava noite, Ele sentiu-se vivo. Ela não se importava se ele a ouvia. Ela falava e falava e falava. E ele simplesmente amava. Depois de horas ali, mais uma pergunta surgia:
          - Alguém já machucou seu coração?
          - Meu coração? Sou um monstro tão congelante. Acho que não possuo isso.
        - Mas é claro que possui. Existem pessoas que por dentro são frias como noites de julho, eu não as sinto. Senti-lhe a quilômetros. Você sem dúvidas, tem um dos melhores corações que já vi.
          Um sorriso esbranquiçado, meio inexplicável, abria-se na face daquele sombrio garoto. Ele não sentia-se mais como um monstro devorador de almas. Sentia-se vivo por um instante. Porém lembrou-se do que é na verdade: - Cuidado comigo, corajosa garota. Você está enganada quanto a quem sou.
          - Sei quem você é. – Soltou uma risada que estava presa, ofendendo um pouco aquele que se sentava a seu lado. Completou a conversa: Eu sei que você não irá me machucar.
          - Como pode ter tanta certeza?
          - Porque você esta começando a se apaixonar.
       - Hum... Ousada cada vez mais em suas respostas. Porém não sei o que são sentimentos, não me apaixonaria por alguém como você. Irritante, corajosa e com um coração tão lindo.
          - Esta vendo? Apaixonado.
         Corou as bochechas e perguntou baixo: - E você, o que sente por mim para que insista em permanecer aqui?
          - Amor.
      Ele não sabia muito bem o que fazia, nunca sentira nada como aquilo antes. Mas, aproximou-se lentamente da garota. Passou lentamente a mão por ser queixo, escorregando até a orelha e parando em sua nuca. Sentindo o coração saltitar por dentro, estava cada vez mais próximo de sua boca. Porém, deu-lhe um beijo na testa, foi até seu ouvido, sussurrou que a amava. Só então beijou-a com tudo o que sentia. Contradizendo o que muitos falam, o ato fez com que ela apaixonasse ainda mais.
         E por lá ficaram o resto da noite. Não se sabe ainda explicar muito bem, mas dizem por ai que a garota das muitas palavras, pode ter despertado o garoto amável que existia por trás da figura amargurada que se perdia nas ruas.

sábado, maio 14, 2011

Linhas de amor.


A rua estava lotada de carros e uma senhora estava sentada em um banco na porta de um antigo prédio abandonado. Ela ficava ali observando quem ia e vinha naquela imensa correria. Deveria ter o que? Setenta e oito, oitenta anos nas costas. Uma garota sentara ao seu lado, assim, sem dizer nada. E a observara. Começaram a conversar, a senhora contou-lhe toda a história de sua vida, que havia crescido em uma família rica e que trocara tudo por um amor que os pais não aceitavam. Que abandonara dinheiro para ter felicidade. Porém que certa vez arrependera da escolha, não reconhecendo os sorrisos que aquela vida trazia. Que havia voltado para a casa de seus pais e prometido nunca mais procurar o rapaz. E ele sempre tentava manter contato, telefonava, enviava cartas, ia até sua casa, mas ela estava decidida que não o amara mais. Os anos passaram, junto deles, as cartas foram parando e ela sentindo cada vez mais falta dele. Resolvera procurá-lo à alguns anos, tudo o que encontrou foram notícias de que ele falecera após uma vida inteira amando de longe. A garota, agora emocionada com a história, levantou-se do banco com um certo ar determinado. A senhora colocou a mão sobre seu ombro e disse:
- Seja quem for o seu amor, corra atrás, diga que o ama, segure sua mão e cuide de seu coração. Eu não corri para os braços do meu e hoje estou aqui, enlouquecendo com toda essa dor. Não cometa o mesmo erro, minha querida.
A menina, segurou as mãos daquela vivida mulher de cabelos grisalhos.
- Preciso ir, obrigada por tudo. Agora, se ele passou a vida a amando e você ainda o ama, estiveram todo esse tempo ligados pela alma, ele ainda esta com você.
As duas sorriam enquanto a garota se perdia em meio à multidão que transitava na rua.
Agora em uma rua mais calma, completamente diferente da que estava há poucos minutos, a menina suspirava, talvez de medo, talvez de raiva. Aproximou-se de uma gigantesca casa que parecia estar ali a mais tempo do que ela podia contar. Abriu o enferrujado portão sem fazer muito barulho.  Bateu três vezes na porta. Nem um mosquito parecia estar vivo. Virou de costas retomando a trajetória até o portão. Uma voz vindo do jardim a fez arrepiar:
- Oi?
Ela não pensara duas vezes, sairá correndo em meio a todos aqueles vasos e flores, pulara agarrada ao pescoço daquela voz única e congelante.
- Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. – Repetia três vezes com lágrimas nos olhos.
O garoto a abraçara com as mãos sujas de barro.
- Estava plantando essas rosas para você. Pretendo fazer com que elas durem pra sempre. Assim poderei lembrar-me do seu sorriso a cada vez que regá-las.
- Porque não olha para o meu sorriso enquanto as rega?
- Porque você vai partir esqueceu-se? Você mesma me disse ontem que estava cansada dessa cidade, dessa vida...
- Mas você irá continuar aqui. E eu posso ir para qualquer lugar do mundo que será terrível sem você.
Ele pegou-a pela mão e foram entrando para a cozinha. Ela, como sempre, não parava de falar:
- Amor, conheci uma senhora hoje que nossa, é a cara daquela foto antiga que tem em cima da lareira daqui da casa que era do seu vô...
Ele pegou-a pela cintura, deu-lhe um beijo e disse:
- Será que você não para mais de falar não?
Começaram a rir. E depois de um café foram terminar o jardim. E provaram a cada dia um ao outro que o amor pode sim trazer a felicidade em si.

sábado, abril 30, 2011

Acordar


Acorda dessa vida, vem brincar de ser meu. Acorda desse mundo, foge para ca. Acorda-me com beijo na testa, com sorriso iluminado, com o sol pela cortina. Acorda-me. Me empurre na água gelada, dando-me um banho de realidade. Me leva pra um mundo nosso, um lugar perfeito sem horas pra acordar. Sem problemas, sem precisar parar de amar.

sexta-feira, abril 29, 2011

Primavera de outono.


Sorriso torto, estou mesmo sorrindo sozinha? Alma de criança, mania de gente velha. Um jeito indefinido de lhe desejar bom dia. Uma maneira esquisita de dizer que amo. Porque é isso que sou, uma metamorfose infinita. Uma mente indefinida. E que se exploda o resto do mundo, eu estou sorrindo. Porque posso sorrir durante todo o dia simplesmente por perceber que eu não me importo com nada daquilo que me faz mau. Solte um sorriso ao céu. Como em uma primavera em meio ao outono, renovando o sorriso amarelado, as pontas do cabelo arrebentadas, o palavriado sem nexo ou as cores do colar. E eu só preciso disso, renovar a vida, deixar novas flores brotarem no jardim de terra batida, não me importar.

quinta-feira, abril 14, 2011

E vai melhorar.


Amanhã, um dia talvez, tudo vai melhorar. Tudo tem que melhorar. Porque eu não presto e isso faz o mundo inteiro não prestar. Porque eu preciso de dias sem me preocupar. Preciso realmente não me importar. As rosas estão sobre a mesa. Não dei-me ao trabalho de coloca-las na água. Deixem-as murchar. Quero fazer as malas e me mudar. Quero olhar-me no espelho e voltar a me ver. Acende a luz do quarto, apaga a luz do corredor. Apaga a luz do corredor, acende a do quarto. E fica nesse vai e volta, vagando pela casa sem ter o que fazer. Encara o telefone. Ninguém irá te ligar. Encara a agenda. Ninguém para telefonar. Inquieta vai para a rua, senta no passeio, de pijamas mesmo, com um copo de Coca-Cola nas mãos. E fica olhando alguns carros irem de um lado para o outro. Vez ou outra algum buzina. Me arrancam um sorriso. Sorriso momentâneo, daqueles que você nem vê abrindo. A feição séria me toma novamente. Não quero mais ficar aqui parada em um só lugar. Fecho o portão, vou dar uma volta para refrescar. Noite daquelas que o mormaço não quer me deixar. Desisto de tudo, entro para o meu quarto novamente. Vou me deitar. Talvez amanhã ao acordar, esse sentimento vago tinha ido passear.

segunda-feira, abril 11, 2011

Através da janela.


Corre pra janela. Pega a xícara de café. E fica ali, esperando o sol nascer. Alaranjando o céu. Surgindo entre as nuvens alguns raios para aquecer o coração gelado. Mil pensamentos. Alguns pássaros cantando. Eu vejo o céu e o céu vê quem eu queria ver. Erga a cabeça amor. O mesmo céu esta sobre a minha cabeça. Fecho os olhos. Uma brisa matinal bate em meus cabelos. Desejo você aqui. Mas ainda não posso ter, o sol me responde. Dou de ombros para a janela. Preciso me arrumar. Irei atrasar-me para mais um monótono dia sem você aqui.

domingo, abril 10, 2011

Detesto-me


Sorriso amarelo, falso, sínico estampado pela face coberta de maquiagem. Odeio o que me tornei. Odeio minha forma de mascarar sentimentos. Odeio a falsidade da maior parte das frases que saem da minha boca. Odeio o coração quebrado que colou torto. Odeio a falta de paciência. Odeio a preguiça pela manhã. Odeio a maneira como me perdi pela vida. Irritei-me com o que tornei-me, não sou assim. Me conheço. Conheço minhas manias, minhas frescuras, mas não conheço mais esse sorriso que finge amar a maioria das pessoas. Cansei-me. E eu sou assim, troco de face como quem troca de roupa. Bipolar mesmo. Quero me sentir bem como com você. Quero me sentir bem para me soltar novamente ao mundo. Chorar quando me sentir mau. Há quanto tempo não faço isso? Tomei ódio de mim. Deus, por favor, me livre dessa pessoa fria. Antes que ela fira quem não quer ferir. Tome uma dose de paciência, de amor e de alma viva. Agora jogue-se no mundo para ser quebrada, destruída e remontada. Vida, me jogue aos ventos novamente. Rabisque essa página. Recomece o caderno. Sinta a alma e só então volte a escrever.

Coisas.


Eu poderia estar me escondendo por trás de mil coisas. Mas não estou. Me jogo no mundo, de peito aberto, de cara limpa. Sentimentos por toda a alma. Você pode me sentir? Sorriso nos lábios, lágrimas nos olhos. Saudade do que nunca houve, felicidade ao ouvir sua voz. Corro dentro do sonho, te encontro em um lugar melhor. A porta bate, fazendo-me despertar. Volto para o mundo sombrio de sempre, onde não tem sol para me esquentar. Alguns quilos a mais. Minha roupa preferida não quer fechar. Meu cabelo esta despenteado, meus dentes amarelados. Café brinca de ser refúgio. Coração estraçalhado no chão. Você aparece na tela do meu celular. Olá. Me transforma. Me dá um pouco da sua vida. Volto a estar viva. Sorrisos. Gargalhadas. Lágrimas. Bipolarismo. Eu amo tudo isso. Amigos sentados ao meu lado em um sofá velho regassado. Espremendo-se para caber todo mundo. Esta frio. Um sorriso para o nada. Você esta louca? Não, estou apaixonada. Amor por toda uma vida. Seu lugar é em meus braços. Eu vou te amar a cada segundo mais. Algumas pessoas não merecem minha simpatia. Seu coração aquece o meu. Minhas mãos parecem congeladas, como sempre. Preciso de alguém que as aqueça. Pego meu lápis, faço um desenho torto no papel. Existem corações por toda a parte. Escrevo sem parar. Tem um mundo novo e extraordinário em minha mente. Eu te amo e isso basta por aqui.

sábado, março 26, 2011

E existira amor.


Corra para ver a pipa pairando sobre o vento, junto ao sorriso de um pequeno menino. A cena enquadrada pela antiga janela de madeira descascada pelo sol. Ela sorria de canto a pensar em como tudo seria se ele estivesse ali naquele instante.
Alguns raios de sol beijam seu ombro. Se fechar os olhos quase consegue sentir os lábios do amado sobre o lugar. Olhos fixos sobre um ponto qualquer. Coração disparado dentro do peito. A mente a pensar em como pode se amar tanto alguém que tão longe esta.
O sino sobre a porta da antiga igreja toca anunciando que a missa das 7 já vai começar. Rapidamente consegue notar as figuras já enrugadas pela idade caminhando pela estreita e antiga ruazinha daquele pequeno vilarejo esquecido pelo tempo.
As dores recomeçam pelo corpo da garota que agora, trocou a janela pela cama, se contorcendo por doenças que a estão matando. O suor escorre pelo pescoço, o cabelo já ganha aspecto de oleoso. As vistas escurecem novamente.
Ao despertar, nota a presença de uma criatura um tanto quanto familiar debruçada sobre o sofá. As vistas ainda estão um pouco embaçadas. Esfregando as mãos sobre os olhos faz baixinho um barulho de alívio, de amor, de término de sofrimentos. Ele desperta do sono leve e arrastando o chinelo se dirige até a beira da cama.
-Como você esta?
-Melhorando. (Responde forçando um pequeno sorriso na face embranquecida).
- Estou preocupado. O que o médico disse?
- Não fique, estou bem. Ele disse que em breve estarei novamente andando de um canto ao outro.
- Senti saudades.
- Só pensei em ti a cada instante que passei trancafiada neste quarto.
Deu-lhe um beijo na testa, sentou-se no canto da cama e enquanto pegava na mão enfraquecida dizia.
-Eu te amo tanto, amor. Vai tudo ficar bem.
Dois dias se passaram, a garota estava a cada dia melhor, mais sorridente. E ele, mais esperançoso que nunca. Um telefonema:
-Preciso ir à cidade resolver algumas coisas. Volto em dois dias. Você acha que ficará bem?
-Claro. Vá.
-Tudo bem então. Te amo.
O último barulho do sapato ecoara pela casa. Mais um ruído, ligou o carro e se foi. Quando voltou foi recebido por um abraço apertado da sogra. Palavra nenhuma precisou ser dita, algo ocorrerá. Correu até o quarto onde sua amada costumava repousar. A cama estava estendida. A flor da cabeceira começava a murchar-se, as janelas fechadas. Com lágrimas dos olhos, gritava em tom de desespero:
-ONDE ELA ESTÁ?
- Meu querido, ela faleceu pouco após você sair.
- MAS EU A VI. (As lágrimas escorriam sem parar) Ela estava bem.
Diminuiu o tom até acabar murmurando as palavras. A senhora então lhe disse:
- O médico disse que ela estava nos últimos dias.
- Mas porque me escondera então?
- Queria passar os últimos dias ao seu lado como se nada estivesse acontecendo. (Após um longo suspiro, também com lágrimas nos olhos continuou dizendo). No momento em que você saiu, a alma dela se deu por completa, por feita. Suspirou por um breve momento, disse com lágrimas nos olhos um eu te amo baixinho, fechou os olhos. Apagou-se para o sono eterno.
Ele saiu da casa derramando lágrimas. Pegou seu carro e se dirigiu até uma casinha no alto de uma serra florida, lugar onde os dois costumavam passar as férias. Colheu algumas flores, jogou-as ao vento enquanto gritava, que a amava, que a amava, que a amava.
Depois de alguns dias seu corpo foi encontrado no quarto da casa. Morrera de amor. De saudades e de coração solitário.
Mas o fato é que juntos eles formavam um dos mais belos casais já vistos. A vida na cidade destruiu a saúde da garota. Todo o transito, o caos, o estresse. Acabaram agravando um câncer que à alguns anos estava estabilizado. Fora para a cidadezinha do interior para tentar se tratar. A vida ao lado dele foi a melhor que já experimentou. E o amou a cada instante de vida. Foi amada. Amada como se fosse a última flor de todo o belo campo. Ele costumava achá-la a menina-mulher mais incrível que poderia existir. A vida ao lado dela foi sem dúvidas, única.
Ainda ouvem-se rumores dessa história. E quando contada até o final sempre perguntam:
-Idaí? A única coisa que isso me mostra é que o amor pode matar e acabar com sua vida. Que pode ser uma tragédia.
E eu, sempre respondo com um sorriso de canto:
- Mostra que ao amor é a mais forte das doenças, mas também é a maior felicidade. Mostra que quando se ama alguém não quer que ela sofra, mas que também que às vezes se ama tanto que não consegue viver com o sofrimento da perda eterna. E mais importante que isso, mostra que o amor simplesmente existe. Ele existe. Independente da situação. De vez em quando se tem amor mesmo que a vida corroa toda a vida. E que quando um amor é verdadeiro, você ama a pessoa tanto que não vive sem ela.

terça-feira, março 15, 2011

Enfim encontraram-se.


E desceu do carro correndo. De moletom, shorts e fones de ouvido. Mordia os cantos das unhas à espera do ônibus que deveria ter chegado às 20:00. Ansiosa olhava as horas no gigantesco relógio sobre sua cabeça. A cabeça girava, mil pensamentos, sorria de canto enquanto se dependurava no para-peito. Um ônibus velho apontou na entrada da rodoviária. Ela saiu descendo correndo as escadas. O tênis falava, gritava, junto à ansiedade do corpo. Transporte e garota se encaravam em um só ponto. Ainda mordia as unhas enquanto procurava por só uma pessoa em meio à as caras estranhas. E ele se virou. Ela nunca se sentiu tão bem como quando os olhares se cruzaram. Uma troca de sorrisos tortos, sem graça, vergonhosos. "Mas que se dane a vergonha", pensou. E saiu correndo na direção da criatura mais incrível do mundo. Um abraço desajeitado. Um oi desengonçado. E pegou uma das suas mochilas, colocou no ombro. E saíram conversando, o braço dele passado sobre seu ombro, ela dando risadas dos casos que contara sobre o que aconteceu na viagem. Um esbarrão em uma sacola de uma senhora. A menina tropeçara, como sempre, tão desastrada. Uma série de risadas. E chovia naquela noite. Chuva engraçada, alegre e bem sincronizada. Enquanto corriam de volta ao carro, mais um tropeção no canteiro que dividia a avenida. Desta vez, no lugar de algumas gargalhadas, um beijo inesperado. Um coração encantado. E assim se lembram hoje, com a idade pesando na coluna, de como foi a primeira vez que se viram. E continuam ainda com suas conversas engraçadas, as crises de risadas e o amor para toda a vida.

sexta-feira, março 11, 2011

Imagine.


Imagine nós dois, eu e você, daqui a alguns anos, morando juntos. Não precisaríamos ser namorados, nem casados, nem nada disso. Apenas amigos. E nós seriamos felizes, eu e você. Fotos de nós dois estariam espalhadas pela casa. Fotos suas no meu quarto, fotos minhas no seu quarto. Mas nós dormiríamos juntos. Pelo simples fato de eu te querer por perto, e você me querer também. Pelo simples fato do seu quarto estar bagunçado de mais e a minha cama ser perfeita para nós dois. Eu teria medo do escuro, sem você. E eu andaria apenas com roupas íntimas, e você fingiria não se importar. E eu fingiria acreditar. Eu fugiria de você, correndo pela casa, rindo, com o controle da televisão, só pra você não mudar o canal. E você me pegaria, e ficaríamos abraçados até o silêncio nos constranger. Nossos sábados a noite seriam nostálgicos, olharíamos todos tipos de filme, atiraríamos pipocas um no outro e pediríamos uma pizza. Nostálgicos e perfeitos, porque depois dormiríamos abraçados, no sofá da sala, ao som da melodia dos créditos de um filme de romance em que eu choraria do começo ao fim, e você riria de mim e comigo. Iríamos ao supermercado uma vez por mês, comprar as mais diversas porcarias. E não nos faltaria nada. Você não se importaria com as minhas roupas espalhadas pela casa e pelo seu quarto. Eu não me importaria com a sua bagunça diária, nem com a sua toalha de banho atirada pelos cantos. Nos domingos à tarde, ficaríamos na sacada do nosso apartamentinho no 3º andar, tomando coca e cantando músicas velhas. Olharíamos as pessoas lá em baixo, casais apaixonados, e ficaríamos em silêncio, perdidos nos nossos próprios pensamentos. Suas amigas viriam te visitar, e eu choraria em silêncio, no escuro do meu quarto. Até elas irem embora e você ir dormir comigo, e perguntar se chorei. Eu negaria. Você acreditaria. Me acordaria no meio da noite, para contar um sonho que teve. E nós riríamos juntos. Me acordaria com café na cama, ou com uma rosa roubada do jardim da casa vizinha. Eu deixaria um recado sutil de amor na porta da geladeira antes de sair na segunda de manhã para visitar meus pais. Poderíamos até ter um cachorro. Poderíamos juntos, levar ele para passear. E você decidiria pintar a casa, e ela ficaria vazia, apenas com nós dois e nosso cachorro. Deitaríamos no chão, e eu perguntaria em que você estaria pensando. Você mentiria e me perguntava o mesmo. Eu mentiria. Eu iria para a universidade todo dia de manhã, enquanto você ia para seu trabalho de meio turno em uma empresa de sucesso. Você me amaria, em silêncio. Eu também te amaria, em silêncio. Em alguns anos, eu estaria me formando , e você estaria no topo da carreira. E você me levaria pra jantar e me pediria em casamento. Eu aceitaria. E seria uma linda história de amor.

(autor desconhecido)

Sempre comigo.


Uns 7 anos de vida, muitas besteiras na ponta da língua, já sofrendo um pouco com o mundo. Amizade instantânea. Nos auto-criamos juntos. Não ligando se os outros nos chamavam de estranhos, nerds ou idiotas. Sempre comigo. Desde que o mundo é mundo. Quantas cama-elásticas nos levaram ao céu? Quantas gargalhadas e bobagens? É impossível contar. E eu me sinto tão bem quando você ta comigo. Sabe de todos meus podres e mesmo assim me faz sentir incrível. Engraçado, inteligente, sem noção, comedor de pasteis, contador de histórias, escritor. Entre outras inúmeras qualidades. Meu confessionário 24 horas. Língua afiada, mente aberta, coração puro. Vem comigo pelo mundo? Mesmo que na primeira esquina achemos que já vimos tudo. Ainda temos muitas fotos para tirar, muitas histórias para contar, muita coisa para comentar. E vou te amar a cada segundo que respirar. Porque amizade assim não se destroí por causa de erros bobos. Jamais. E mesmo nos tempos tristes, eu vou estar contigo. Quando a Brit parar de cantar ou o mundo acabar. rs. E sei que posso contar contigo o tempo todo. Há 8 anos do meu lado. Me fazendo gargalhar. Mesmo que minha risada seja estranha, que eu não fale inglês, espanhol e francês, que eu seja uma viciada em café, eu vou te amar e isso basta por toda uma gramática decorada de trás pra frente. E que venham os próximos anos porque com 15 a gente só vai se fuder e disso estamos cansados de saber. Que venham os próximos tsunamis, os próximos filmes da Angelina, os próximos baldes de pipoca, os próximos álbuns da Gaga. Eu vou sempre te amar.

quarta-feira, março 09, 2011

Inexplicável.


Eram dois garotos não muito convencionais. Falavam demais, sentiam demais, amavam demais.
Esbarraram-se pela rua em uma tarde normal de segunda-feira. Papeis ao ar. Pedidos de desculpa. Nada demais. Dois passos à frente. O ônibus chegara. Correram novamente. Sentados lado à lado, um sentimento de vontade de conhecer um ao outro. Troca de telefones.
E começaram a se falar, a se conhecer, a se entender.
E o celular dos dois nunca mais parou de tocar. Um frio na barriga ao atender o telefone. Uma angústia de ter que desligar. A vida tinha de continuar.
Um tempo depois, marcaram de sair. Noite divertida, engraçada, repleta de gargalhadas. A rua estava fria, úmida, acabara de chover. Poucos faróis, pouca gente. Uma troca de olhares, de sorrisos, de sentimentos. Um beijo.
-Acho que estou me apaixonando.
Um sorriso sem graça. Mais um beijo.
-Me tornei um bobo apaixonado.- Respondera o outro com bochechas vermelhas.
-Tá na minha hora. Boa noite. Se cuida.
E todo mundo sempre soube que o se cuida é o eu te amo mais escondido por medo das palavras.
No dia seguinte se encontraram novamente. E também nas semanas seguintes, nos meses seguintes, nos anos seguintes.
Se entendiam, se importavam, se amavam.
Enquanto viam um filme qualquer em mais uma noite chuvosa surgiu a pergunta:
-O que te fez apaixonar por mim?
-A maneira como você mexe no cabelo, mexe o nariz quando sorri, como sempre está de bom humor e pronto pra me ouvir.
O silêncio dominou novamente a sala perfeitamente decorada. Até um suspiro seguido do questionamento:
-E você, o que te mantêm apaixonado por mim?
-A forma como nunca me deixou sozinho quando estava triste, como sempre me deixa de bom humor, o carinho que sempre demonstrou.
-Sabe, não te trocaria por nada no mundo.
-Idiota! E acha que eu o trocaria?
E com risadas adormeceram abraçados, apaixonados. E dizem que até hoje se completam, se irritam, se amam. Da maneira mais inexplicável possível.

terça-feira, março 08, 2011

"Diferentes"


E o que importa é o que leva por dentro. A essência, o tempero, o amor. Uma pessoa heterossexual é completamente igual a um homossexual. O coração bate da mesma forma, sem escolher a pessoa. E a ignorância gira em torno dos de cabeça fechada. A vida é sua. Viva da forma que lhe traga um sorriso escancarado pela manhã. Já vi muita garota rica fugir de casa. Já vi muita gente linda sem nada por dentro. Muita mente genial ser considerada incompetente. Muita mente vazia ganhar título. Já vi muito homo ser mais macho que muito hetero. Já vi muito hetero com a mente mais aberta que de alguns homos. Já vi muita contradição, muita ironia, muita verdade omitida. Muita sociedade que não aceitava o que a pessoa realmente era. Mas a vida é de uma maneira para cada um. Cada pessoa de um jeito, um tempero, uma forma, uma atitude. O divertido, o engraçado, o que faz tudo valer a pena, é isso. Cada um nasceu de um jeito. E não será a sociedade que irá os reger. Então por favor, seus hipócritas ignorantes que a cada dia matam mais mentes, parem de pensar que só existe um jeito das coisas serem certas, enquanto existem milhões de pessoas com milhões de opiniões e sentimentos diferentes. Afinal, foi isso que vocês ensinaram pra gente, cada um é de um jeito. E que devemos respeitar sempre. Foda-se o que pensam sobre o corte de cabelo, as roupas, a sexualidade, as atitudes, os pensamentos. Se tudo isso fizer parte de mim, assim serei.

segunda-feira, março 07, 2011

Destino desenhado.


Noite escura, tenebrosa, silenciosa. Em meio a neblina o trem das dez chegara. Logo uma silhueta masculina, alta, magra surgira sob o poste com luz defeituosa. Esforçava-me para tentar identificar. A lâmpada não deixava. Continuou andando em minha direção. Com força soltou as malas no chão. Se aproximou mais um pouco. "Eu te amo", sussurrou. Minha vontade era de dar-lhe um tapa na cara, alguns gritos e um beijo. Porém virei-me de costas e comecei a andar. Ele me seguia, podia sentir sua respiração ofegante enquanto tentava alcançar-me. Alcançou. Puxou meu braço para trás. Me beijou. Empurrei-o.
-O que faz aqui? (Perguntei rancorosa).
-Vim atrás do que amo. (Respondeu firmemente). Me desculpe.
-Desculpar? Pelo que?
-Por jamais ter lhe dito o quanto lhe amava.
-Levou-me ao chão na manhã em que partira sem despedir-se.
-Não conseguia mais lhe ver sem te ter. Deixe-me reconstruir seu coração.
-Para quebra-lo novamente?
-Para amar-me novamente.
-Não posso ama-lo de novo, enquanto ainda o amo pela primeira vez.
-Nunca a esqueci.
Desabei em lágrimas bem ali, naquela parte, naquela hora. Podia ver em seus olhos que dizia apenas a verdade. Beijei-lhe naquele instante. Suas mãos tremiam, as segurei com força enquanto sussurrava em seu ouvido:
-Vê se desta vez não parte de novo.
Dei meia volta, peguei as suas malas, levei-as para casa, coloquei em um canto da sala. Ele abriu o ponte de bolachas, após me jogar sobre o sofá. E dizia algo meio assim, que o nosso fim sempre esteve escrito em um canto de algum papel. Só precisávamos passar pelos rabiscos que o antecediam.
Fechei os olhos, viajei na mente. Quantas são as probabilidades de que o amor exista? Não interessa. Eu o amo.

E amara.


Suspirava baixo, enquanto o medo lhe tomava a mente. Medo de perder novamente o que nunca a pertenceu. Mas amara tanto, sonhava tanto, sorria tanto. Falava demais enquanto só queria dizer um "te amo". E só dava valor depois que perdia. Hoje morreria por um minuto do que possuía todas as tardes. Uma saudade de um tempo em que o mais importante era chegar em casa correndo e ver que ele já estava esperando. E o coração batia dilacerado pela mesma pessoa engraçada. Esperava da janela que os pássaros cantassem. Não cantaram. Porém mais um sorriso se abria. Lembrava-se que um dia já teve tudo que mais queria. Sorria por amar tanto aquela criatura unica. Que o libertara para o mundo sabendo que o levaria sempre junto ao peito. Sem dúvidas, foi amado da maneira mais adorável. Sem dúvidas, será amado até o último suspiro.

domingo, fevereiro 27, 2011

(In)esperança.


O café está frio, pela janela as nuvens anunciam mais uma chuva estrondosa. Perdi completamente o apetite, a esperança, a vida. Esbarro com força sobre o pé da mesa. Caio no chão e fico lá, parada, ouvindo o resto do que já fui em uma respiração continua. Até o copo de água ao lado do vazinho de flores artificiais, embrulha-me o estômago. A cada dia percebo meu corpo mais cansado, a face cada vez mais amarelada. Não sinto mais nada. Não tenho vontade de nada, amor por nada, saúde pra nada. Provavelmente estou apenas com mais uma doencinha comum. Porém minha alma tem roubado forças. São tantas cobranças, exigências, regras e etiquetas. Não fui feita para levar esse tipo de vida. Sempre adotei aquela maneira engraçada, do faço o que quero quando quero. Tempo virou-me coisa rara. Mau humor virou companheiro de todas as manhãs e amor, um amigo antigo que não me faz visitas. Fecho os olhos desejando minha felicidade de volta. Ao abri-los, nada havia acontecido. Talvez amanhã algo mude. Preciso fechar as janelas, as roupas, cabelos e almas já estão encharcados.

Apelos inconscientes de uma sentimentalista.


Ainda lembro-me de todos os mil contos de fadas à mente. Ainda lembro-me da maneira como acordara todas as manhãs com um olhar reluzente. As manhãs têm sido chuvosas. Gostaria da sua presença. Outro dia, peguei-me olhando através da janela enfumaçada, parecendo estar esperando por alguém. Mas você não virá. Qualquer outra companhia me parece inconveniente. Um sentimento angustiado domina onde um dia já esteve um amor interminável. Talvez o amor tenha se mudado, desistindo de fazer-me feliz. A vida anda agitada, querido. Mas ainda penso em ti todas as noites ao encostar a cabeça no travesseiro. Gostaria de ter coragem para lhe telefonar, mas não tenho. O que diria? Olá? Não, não, talvez amanhã eu ligue. Já lhe disse que odeio esse lugar? O modo como as pessoas daqui parecem não ligar se você tem algo diferente de telefones celulares, bolos de dinheiro ou chaves de imóveis. Ninguém se importa com o tal do sentimento, muito menos com o sofrimento. Quero voltar para nosso mundo do qual me expulsara. Quero voltar a ser a pessoa com quem brigava, porém amava. Ta tudo tão difícil, chato e complicado sem você.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Ainda amara.


Silenciava a mente enquanto palavras aleatórias saíam da boca. Sufocava os pensamentos, congelava o coração. Porque as vezes parece mais fácil não sentir nada. O problema é quando se esforça para sentir o que não se sente a tempos. Para ouvir o coração pulsar por outra pessoa, sendo que ele ainda pertence ao mesmo colecionador de corações de sempre. Aceitei calada a idéia de amar sempre a mesma pessoa que fez-me apaixonar pela vida. Desajeitada, jogada, sorria por dentro de um jeito meio torto, meio apaixonado, com alguns poréns à mente, com um jeito engraçado de lembrar que ainda amara com um coração estraçalhado.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Difícil.


Difícil explicar porque ainda está parada no mesmo lugar. Difícil explicar porque se lava o rosto depois de chorar. Difícil explicar porque tudo sempre tem seu jeito e sua maneira certa de estar. Tenho poder de gostar de tudo que é estranho, bizarro e engraçado. Tenho o poder de gostar de tudo que geralmente é rejeitado. Por odiar leis de como se encaixar, fazendo tudo do meu jeito, do meu estado de consciência, da minha maneira meio louca de achar o errado certo e o certo errado. E ainda hoje grito com todos que me dizem que deveria ser mais normal, parecida com o resto da garotas da minha idade. Mas não sou, tenho a mente de uma senhora que vivenciou fatos de mil anos atrás. Sou o tipo de pessoa que se isola em dias que pula da cama se sentindo virada do lado avesso. Sou o tipo de pessoa que quando estou bem, nunca para de falar, de dançar, de gargalhar. Será tão difícil compreender que talvez não seja do jeito perfeito que deveria ser?

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Joguei-me no sofá.


Sentei-me em um canto qualquer do sofá, sem sentimento nenhum no peito enquanto gritava por dentro que a vida não ia conseguir mais me ferir. Mas se torna cada dia mais difícil esquecer do que se ama e ficar com um buraco no peito. Enquanto tentava esquecer, parada lá, naquele mesmo lugar, com uma armadura de ferro pesando os ombros, os dias foram passando, tudo lá fora mudando. No dia que enfim despertara, desconhecia até a própria sombra, mas ainda sentia as mesma dores do começo. À um certo tempo comecei a consumir solidão, jogada no sofá, só pensando em como tudo poderia ser. Recusando visitas de qualquer criatura viva, ignorando o telefone que um dia já tocara sem parar. Depois de um tempo, as pessoas se acostumam com o fato de você estar isolado. Acho que todos evitam ver os problemas. Levantei-me pensando em fazer algo, mas sem inspiração para desenhos, para sonhos, para vida. Desequilibrei mais uma vez, caindo sobre o tapete empoeirado, admitindo ficar ali, até ter coragem para recomeçar tudo que perdi.

Ele está.


Ele está. Apenas está. Está no lugar, na hora, no estado de espírito. Ele está do jeito que sempre esteve dizendo ao resto do meu reflexo que pare de se iludir com o que as coisas pareçam ser. Ele está como sempre esteve, mas de um jeito meio diferente que alma alguma ousa tentar entender. Ele está. E como está. Larguei a vida e fui voar. Encontre-me depois que acordar.

Desesperada.


Cortou os cabelos como se eles contivessem todos os males que tudo já lhe trouxera. Mas não continham nada, eram apenas cabelos. Arranhou os próprios braços como se estivessem amarrados em algo. Mas não estavam, ela estava livre para ir onde quisesse. Sua mente a manteve em desespero quando se viu sozinha em meio a tantos rostos conhecidos. Sem acreditar em nada indagou-se: Calma garota, engula esse choro. Agora levante-se daí e vá viver sua vida, gritando com tudo de te aterrorizar, que você consegue e vai superar.

Depois que tudo acaba.


É tão estranho quando você tenta lembrar de algo que parece ter acontecido à anos. É tão estranho quando quem você considerava vida se vai, mas você continua vivendo. É tão estranho como mesmo com o coração partido, ele continua batendo. E sinto um aperto no peito sempre que me lembro de como tudo costumava ser. Um aperto tão forte que me dá vontade de morrer. Tento me esconder em meio à escuridão, porém continuo lá, ainda ouço minha respiração fraca e sinto meu coração bater mais dolorido a cada instante. Porque doí tanto se é assim que as coisas deveriam acabar? Cada um pro seu lado do jeito que todo mundo sempre disse que ia acontecer. Me tornei alguém que apenas está ali, de corpo presente e mente distante. Eu só queria saber se um dia, essa tristeza aqui dentro vai passar, só queria saber se um dia eu vou voltar a sonhar.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Viver.


A mesma pessoa que te arrancou um sorriso ontem, hoje esta te fazendo chorar, mas com certeza, talvez não amanhã, porém um dia, ainda vai te fazer cair no chão dando gargalhadas daquelas lágrimas. Todo mundo o tempo todo é completamente ridículo em relação a algo. Você acaba percebendo isso um dia. Algumas coisas acabam te fazendo ficar com a mente fechada nas reclamações, sem fé no dia que ainda vai nascer. O mundo te arranca tanto a esperança que acaba lhe fazendo sentir como se o melhor fosse morrer por ali. Até que acordar um certo dia te faça perceber como esta apenas no começo da vida e que não faz mau se sentir como se tudo que você sonha pudesse se tornar realidade. Viver pode ter várias interpretações, pra mim é enfrentar tudo o que você teme, sentir o suor nas mãos e não desistir. Viver é reparar em tudo que sempre esteve ali, perto de você. Viver é dar valor ao que ninguém mais dá. É estar com vontade de estar onde esta mesmo depois de se cansar. Você não precisa estar necessariamente com alguém para estar vivendo. Tem apenas estar sentindo alguma coisa dentro do peito.

Pensamentos.


Jogada sobre a cama daquele lugar que normalmente ignorara, a dor parece ser maior que nunca dentro do peito. O céu esta estrelado essa noite. O único barulho na casa é de um ventilador, indispensável nessa noite de verão, que esta despenteando meus cabelos. Algumas semanas atrás tudo que acontecia fluia perfeitamente. À alguns meses, minhas atitudes destes dias pareceriam apenas mais um dia. Hoje nada mais faz sentido. Todos os lugares, todas as pessoas, tudo me faz sentir como se estivesse no lugar errado na hora errada com as pessoas erradas. Alguém abre a porta e me faz despertar dos pensamentos. Começo a desistir de pensar tanto em tudo.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Insanidade de mente esperançosa.


Em voz alta, eu lia aquelas páginas, como se nenhuma palavra existisse apenas para os olhos as transmitissem para a cabeça, como se o som, o tom, a cor, o cheiro, tudo estivesse ali, me devorando para acabar com o sofrimento de não saber o fim:

"E fechara os olhos enquanto se imaginava a voar. Partindo dali, deixando todo o sangue, que ontem escorrera por suas mãos, se secar. Deixando todas as espadas, machados e espingardas pra trás. Sua alma teria uma nova chance de se renovar. Tudo seria tão bom naquele lugar. A mente estava à flutuar nos pensamentos de sempre. Uma porta bate com força o fazendo desabar e voltar. Os gritos de toda a desarmonia e angustia voltando à seus ouvidos presos no corpo ainda acorrentado a seu mundo habitual. Em meio ao desespero tudo ia se perdendo, obrigando-o a se trancafiar dentro de um armário escuro no qual começara a arranhar sincronadamente a antiga porta de madeira. Enquanto as lascas lhe perfuravam a mão, com gritos desesperados ele repetia que toda aquela dor física praticamente não existia perto da dor de espírito de estar ali. Então, com toda a coragem que por todos esses anos fingiu conter em suas artérias, puxou uma pequena faca que carregava à cintura e se cortou até não ter mais força de permanecer em pé. Enquanto desabava rumo a morte só pensava no que aconteceria agora que o corpo morrera. Mas nada aconteceu, a alma não sobreviveu. E acabou assim mesmo, sem poder fazer mais nada. Acabou ali, dentro do armário, sozinho, durante à insanidade de sua mente. Acabou assim, matando o corpo e a alma do pior jeito."

Enquanto fechava o livro lentamente eu me perguntava insistente: Porque tudo sempre tem um fim tão trágico como sua mente?